sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Desprovida - Parte V

A tarde passou da forma mais inquieta possível. Ela pensava e se remoia. Não sabia se iria a esse encontro. O beijo foi sem dúvidas a coisa mais incrível que aconteceu em sua vida até então. Nunca havia sentido uma coisa tão inexplicável. Fernando parecia agora alguém muito mais real pra ela. Além de real agora dividiam um sentimento, compartilhavam um segredo, um beijo, um campo de flores e possivelmente um balanço. Cecília não adaptada a romances de alguma forma sentia que aquilo era especial.
Dedicou-se a seus afazeres, organizando o jantar com a mente em outro lugar. A mente em Fernando. Não sabia por que, nem como explicar, mas sentia que pelo resto da sua vida teria sua mente em Fernando. Sentia que mesmo que algo ruim acontecesse nunca mais conseguiria expulsa-lo de seus pensamentos. Da mesma forma sentia uma angústia, um medo. Medo de ser esquecida. Medo de estar se iludindo, de Fernando partir de sua vida. Sua vida já não faria o menor sentido sem aquelas emoções e ela estava certa que somente Fernando era capaz de desperta-las.
Serviu o jantar, absorta em pensamentos, não tocou na comida. O pai logo se preocupou, mas preferiu permanecer calado. Para ele mais valia o silencio do que a decepção, e no fundo sabia que Cecília estava mudada. Sabia também que essa mudança acontecera no dia em que a flagrou na praça. Aquele sem duvida foi a primeira vez que ele olhou pra Cecília e percebeu que não a conhecia. Antes eram apenas dois seres que não compartilhavam sentimentos, pois não os conhecia. Agora os sentimentos que ambos exploraram os havia destruído qualquer aproximação. Não que um dia tivessem sido realmente próximos. Mas em simplicidade compartilhavam assuntos, coisas bobas e cotidianas. Agora Cecília parecia estar em outro mundo e ele não sabia como resgatá-la.
  Após o jantar o pai como de costume ficou cochilando no sofá. Ela ainda incerta resolveu sair. Depois de muito se preocupar com a aparência, entrou em seu novo quarto, e pegou um dos vestidos de sua mãe. Cor de vinho, divino. Vestiu-se apressadamente e saiu antes que o pai visse, pois não saberia o que responder caso ele perguntasse aonde iria.

Com passos rápidos caminhou até o balanço, já eram nove horas. Ela sentou e esperou que ele aparecesse. Descobriu que a espera e a ansiedade é um veneno pra alma. Momento de espera, alma inquieta. Medo e alegria misturados com a esperança de ver um ser que até pouco não era nada e agora já era amado. Ficou a pensar no que Fernando significava. Viu que era um significado enorme e complexo, que seu ser havia se transformado por inteiro. Mais que isso, viu que seria capaz de mudar ainda mais se isso significasse ter ele por perto.

9h15

Agora o coração já estava disparado. Mil questionamentos. Aconteceu alguma coisa? Ele esqueceu? Se atrasou? Desistiu?
A espera, a incerteza, fere ainda mais do que a certeza da ausência. Na espera ficamos a divagar sobre o que aconteceu, e a mente humana tem o dom de esperar o pior. As nossas suposições às vezes machucam mais que a verdade. Duro é quando depois que criamos uma ferida aberta com as suposições vem o vinagre da verdade pra piorar tudo. Mesmo enlouquecendo nossos sentimentos sempre existe no mundo uma pessoa que espera a outra.
Cecília ficou divagando, o coração doía no peito. Parecia que em seu peito batia um oco. Esperou em vão por quase uma hora e ele não apareceu. Segurou também em vão as lágrimas que rolaram insistentemente por sua face.
- Te odeio – falou baixinho tentando confortar o próprio coração. Tentando enganar a si mesma. Tentando fugir.
Levantou, respirou profundamente e voltou a sua casa. Ele estava brincando com seus sentimentos, e ela não sabia o que fazer.

Correu pra casa e entrou rapidamente em seu quarto. Chorou até que o sono a dominasse. Sonhou com o beijo. Pelo menos no sonho Fernando a amava. Decidiu tentar esquecer. Fim. A ilusão que mantinha acesa seus sentimentos estava agora ferindo sua alma.
Não poderia amá-lo, não poderia se permitir sofrer.
Acordou cedo, como de costume. Os olhos estavam vermelhos e inchados. Seguiu sua rotina na esperança que ela a levasse de volta ao seu antigo estado de espírito.
Coração apertado, a vontade de chorar não passava. Caminhou até a janela e lá chegando encontrou um envelope

“Apenas leia.
Ass. Fernando”

2 comentários:

  1. Ain, assim eu fico curíosíssima *-*

    rsrsrsr... cada vez melhor...

    Ger!!!

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  2. Nossa! Tô doida pela próxima parte! Amei demais essa história! *----*

    Beijão!

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Olá,
Obrigado por ler e comentar!
Beijos!